28 setembro 2006

"Há coisas fantásticas, não há?"



A nova campanha da Netcabo, com três Teresinhas "prontas para surfar sem limites", levou um conjunto de 42 pessoas (de 13 nacionalidades diferentes) ao Bali, para fazer o filme que vamos ter que aturar na televisão até Março. Quem já o viu perguntará porque raio, para filmar umas cenas de surf, será preciso ir para o Bali... não haverão ondas em Portugal (por exemplo) capazes de ilustrar o "fim dos limites de tráfego"? Não. "Nesta altura do ano, o sítio com a melhor ondulação era no Bali" (produtor José Neto dixit). Simples, portanto. Aliás, com 4-milhões-de-euros-4 para gastar, não há campanhas difíceis.

Sem, obviamente, menosprezar o poder de uma boa campanha de comunicação, pergunto-me se a marca Netcabo seria menos "jovem e cool" (argumento de Pedro Leitão, administrador da PT Multimédia, para justificar o investimento) se a onda gigante que aparece no filme fosse, digamos, um bocadinho menos gigante. O que é que há de fantástico naquele filme? O que é que, naquele filme, justifica uma produção no Bali? Nada! A não ser, claro, os seus bastidores: as viagens, as praias, as comidas exóticas, o salutar convívio entre o staff e as Teresinhas, enfim, tudo aquilo que não acrescenta nem retira nada à campanha propriamente dita, mas que - oh, vil destino! - faz parte do pacote.

Pergunta que se impõe: que gestores são estes, que aprovam todo o tipo de delírios megalómanos das agências de publicidade? Que gestores são estes, que não reconhecem um mero golpe de oportunismo? E que agências são estas, que vendem este tipo de "criatividade"? Vejamos: a ideia da campanha é comunicar a navegação sem limites na Internet – vulgo surfar - por isso, hum, deixa ver... põe-se as Teresinhas a fazer surf? Não, isso é muito óbvio... já sei, põe-se as Teresinhas a fazer surf no Bali! Uau, que golpe de imaginação fantástico! Quelle pièce de résistence!

Fonte (das citações e factos): Meios e Publicidade, 22.09.2006.

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