22 maio 2006

Compro, logo existo


Pior que o número crescente de centros comerciais em Portugal é a quantidade de gente que vê na abertura de um novo espaço deste tipo a oportunidade de existir. Existe porque vai, porque está, porque compra (leia-se: “eu também fui, eu também estive, eu também tenho”). No novo El Corte Inglês de Gaia, e a acreditar na notícia do DN, às 6h (seis!) da manhã já havia gente à porta, à espera da abertura oficial para poder entrar. Consequentemente, às 11h da manhã já centenas de pessoas faziam compras no supermercado, fascinadas com o progresso que chegava sob a forma de jamón serrano e tortilla para microondas.

No segundo dia de abertura ao público do espaço comercial do Campo Pequeno, mais de metade das lojas e restaurantes continuavam furiosamente em obras, em plena corrida contra o tempo já esgotado; ainda assim, o barulho dos berbequins e a poeira no ar não foram suficientes para demover as largas dezenas de pessoas que aguardavam vez para almoçar, na fila da “Loja das Sopas” (repito: dezenas de pessoas ao barulho e ao pó, de pé, em fila, à espera para pegarem num tabuleiro com um balde de sopa e irem, com o dito nas mãos, sentar-se numa das mesas no meio do estaleiro).

Que raio de país é este? Estaremos a criar monstros?

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