13 março 2005

Le silence de la mer


A dor é silenciosa. Por fora. Cá dentro é tumultuosa e incansável. Era esta a metáfora de Vercors (o autor do livro cujo título roubei para este post): o aparente silêncio do mar e o contraste com tudo o que passa no seu interior, invisível a quem está apenas a ver de fora. O livro relata a experiência de uma família francesa durante a ocupação Alemã (na II Guerra Mundial) e a forma como aquela resistiu, optando por se manter em silêncio enquanto cumpria tudo o que lhe era imposto. O silêncio como revolta.

Mas este post não é sobre a Resistência Francesa. É sobre Madrid e o 11 de Março. Vem tarde, pensarão. Mas foi propositado: o (meu) silêncio como revolta.

No dia 11 acordei ao som das notícias que davam conta dos sinos que tinham tocado em toda a Espanha, exactamente à hora do atentado. Achei que, se lá tivesse estado (ou se tivesse perdido alguém naquele dia), a última coisa que quereria seria ouvir a minha memória das explosões ou o eco da minha dor... ou ver o 11 de Março nas capas de todos os jornais, em todos os noticiários... ou participar numa qualquer manifestação (por melhor que fosse - e seria de certeza - a intenção de quem a organizasse)... Parece egoísta, eu sei. Mas, quando se perde alguém, a dor é contínua, presente, vive dentro de nós; a dor é, sobretudo, íntima. Não é partilhável. Como tal, não tem data e dispensa ruídos e comemorações. A dor é silenciosa.

Nós, os que assistimos a tudo deste lado do ecran, não temos o direito de misturar a nossa memória de sofá com a memória de todos os que lá estiveram; nem de lhes amplificar a dor com um dia inteiro de reportagens, documentários e imagens repetidas até à exaustão. Temos, pelo contrário, o dever de fazer todo o possível para que este tipo de coisas não volte a acontecer; o dever de reflectir nas causas, para encontrar soluções.

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