21 fevereiro 2005

São rosas, senhor, são rosas!


E pronto, tinha que ser. A mudança era demasiado urgente para não ser clara. As pessoas votaram em força para derrubar a direita e, ao contrário do que se costuma dizer, não tiveram "memória curta": a hecatombe do PSD não deu votos ao PP, antes o arrastou consigo. A postura de estado de Paulo Portas não funcionou. Por mais que dissesse o contrário, o seu governo e o de Santana foram um e o mesmo governo... grande azar, as pessoas estavam atentas e perceberam a jogada.

Ainda assim, confesso que não esperava uma derrota tão estrondosa de Paulo Portas. Pensei que, no mínimo, segurasse a votação de 2002. Qual será, agora, o futuro do PP? O PP é, literalmente, Paulo Portas. Com a sua demissão, o PP vai passar a chamar-se o quê? PdL...? NG...? LX...? TC...?

Santana, pelo contrário, não só não se demite como - imagine-se! - se propõe disputar a liderança do PSD... é, no mínimo, de uma falta de vergonha atroz. O homem está agarrado ao poder, por mais que batam na incubadora. Pior, como ficou claro no discurso de ontem, inicia agora uma nova etapa: vingar-se dos "grandes" que o deixaram sozinho. Espero, para bem da governação, que seja corrido da liderança do partido. De que serve a oposição do PSD a um governo com maioria absoluta se o líder é Santana? É saudável para a democracia que toda a oposição esteja atenta, que saiba contestar - sempre que tal for necessário - as decisões do PS mesmo que, em termos práticos, isso não o impeça de fazer tudo o que lhe aprouver.

O Bloco de Esquerda triplicou a sua votação. Embora, face à maioria do PS, se possa dar ao luxo de continuar "apenas" a ser do contra, é bom que faça por merecer a confiança de (pelo menos) todos quantos votaram nele; que seja uma oposição construtiva, que marque a diferença. Tem massa crítica para isso.

A vitória da CDU é, tão-só, uma vitória pessoal de Jerónimo de Sousa. Desenganem-se, por isso, os que acreditam que alguma coisa mudou na CDU além do seu líder: Jerónimo apenas se limitou a trocar a cassete pelo DVD que, além da imagem, tem um aspecto mais moderno. No entanto, o filme é o mesmo.

Sobre Sócrates, penso que já se disse tudo. A vitória caiu-lhe em cima, como cairia em cima de qualquer outro partido que concorresse com o PSD de Santana Lopes no Suriname ou no Burkina Fasso. Temo que seja um primeiro-ministro mal preparado e, ainda por cima, prepotente. Nem ontem, rodeado de colegas eufóricos, conseguiu disfarçar o seu mau feitio, acabando por fazer uma declaração de vitória desastrosa: dirigiu-se aos "camaradas e amigos" depois do país lhe ter dado uma maioria nunca antes vista e o seu (repetido) "conseguimos!" foi de uma frieza e falta de convicção confrangedoras. Tal como na campanha, tudo em Sócrates parece ensaiado, plástico, artificial.

Enfim, esperemos que tenha (ao menos!) o mérito de se saber rodear de ministros competentes e capazes de retirar o país da situação catastrófica em que se encontra. Não vai ser nada fácil.

2 comentários:

Nathalie e Vasco disse...

O teu melhor post de sempre ! E viva o Bloco nê ?

Anónimo disse...

Olá! Finalmente consegui ver os posts e entrar nos comments! Concordo com tudo o que escreveste. Para mim, foi apenas mais uma etapa na fútil alternância (democrática?) que desde há vários anos leva Portugal para lugar nenhum. Quanto aos outros partidos, penso que o futuro reserva um regresso à irrelevância do PP (à falta de líder carismático) o retorno à tendência de fundo de desaparecimento do PCP (uma vez passado o "efeito simpatia") e um continuado protagonismo da esquerda caviar. Estes conseguem mascarar a total ausência de ideias de base(no fundo, de uma ideologia) com posições fortes sobre questões sociais, ditas "fracturantes". Até gostava que ganhassem as eleições... assim todos percebiam a total falta de ideias sobre o que realmente interessa ao País! Penso eu de que... Beijos e parabéns pelo blog.