04 fevereiro 2005

O outro lado do debate


A forma como Sócrates e Santana fazem o rescaldo do debate de ontem nos respectivos blogs ilustra bem as suas (diferentes) posturas nesta campanha. Vejamos:

"Ontem, Portugal ficou, efectivamente, a saber quais as diferenças entre o PPD/PSD e o PS. Ficou a saber a diferença entre quem faz, como foi feito em apenas quatro meses, e quem promete que vai fazer sem esclarecer como. Entre a credibilidade de um bom Governo e de boas propostas do PPD/PSD, e de um PS refém de um guterrismo sem Guterres que promete trazer as mesmas pessoas que levaram o País à beira do pântano, como foi dito pelo próprio António Guterres. Quem ganhou o debate? Muitos comentadores se pronunciaram, mas hoje os dois principais jornais de referência fazem a sua análise, com primeiras páginas claras sobre o assunto (...). Estou certo que no dia 20 de Fevereiro o Povo, uma vez mais, será soberano".
Santana Lopes

Santana Lopes está eufórico: citou Guterres no momento em que este abandonava o país e rematou para Sócrates "aqui está o homem que o senhor já tinha saudades de ouvir"; lançou sucessivos números e factos para cima da mesa (e, desta forma, credibilizou o discurso e mostrou que tinha feito os trabalhos de casa).

No entanto, continua autista ao ponto de achar que o seu foi um "bom governo" (e então foi demitido porquê?) e de acreditar na vitória: nas "alegações finais", Santana olhou de frente para a câmara para dizer que tem um sonho, qual Luther King. Só faltou a lágrima.

"Tenho recebido muitas reacções (...) não é de admirar que sejam de felicitações, partindo elas de pessoas que são amigas e camaradas. E, diz-me alguém, com muita graça, que há um sinal claro de que o debate me correu bem: o comentador de estimação do actual líder do PSD diz que ele ganhou, mas por pouco, sem ser por KO. (...) Dos comentadores de serviço esta noite, dizem-me que é o único a achar que o actual líder do PSD ganhou, ainda que por pouco. É bom sinal. Até vou dormir mais descansado"
José Sócrates

Sócrates é cauteloso, mas inseguro. Para quem quer ser primeiro-ministro com maioria absoluta e está permanentemente em vantagem nas sondagens, esta sua insegurança é confrangedora (embora revele honestidade); Sócrates chega ao ponto de admitir que as felicitações o são porque vêm de "amigos e camaradas" e de ficar contente e "dormir descansado" porque Santana ganhou mas foi só por pouco. A forma como escreve traduz bem o suspiro de alívio que deve ter dado no final do debate (em jeito de "uff, já passou!").

Embora tenha estado, de uma forma geral, razoavelmente bem, fica sempre aquela sensação que lhe falta qualquer coisa. E o que lhe faltou ontem sobrou-lhe em rigidez, repetições (de gestos e palavras), e num discurso algo ensaiado.

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