13 janeiro 2005

O candidato que lava mais branco

Confesso que até acho piada ao Marketing Político, na sua vertente de estratégia de comunicação aplicada às ideias (ao invés de às coisas). No entanto, nos últimos tempos, tenho-me questionado sobre se este não se terá tornado mais numa forma de camuflar o vazio do discurso político do que, propriamente, o promover.

O facto é que deixámos de ter campanhas eleitorais cujo objectivo era, sobretudo, divulgar as ideias e as motivações para governar o país, para passarmos a ter verdadeiros trailers cinematográfico-publicitários (aos quais não falta sequer a banda sonora a condizer. Épica, de preferência, que as pessoas gostam de heróis).

Consequentemente, também deixámos de ter candidatos (mais ou menos simpáticos, com maior ou menor dom da palavra), para passarmos a ter verdadeiros actores, daqueles que estudam meticulosamente o guião, que sabem exactamente em que deixa devem inflamar o tom de voz e em que capítulo devem exortar as massas ao aplauso e ao "viva".

Poderão sempre dizer-me que toda esta mise-en-scene é resultado dos tempos modernos e que, como tal, é inevitável (ou mesmo irreversível). No entanto, pergunto(-me), até que ponto é possível acreditar em filmes? Em promessas prontas-a-comer? Em programas de governo que não são mais que cópias (não necessariamente restauradas) dos anteriores?

Somos todos consumidores, mas isso não faz de Portugal um hipermercado.

2 comentários:

Nathalie e Vasco disse...

Pois eu nao acho nenhuma piada ao Marketing Político. Penso até que essa "profissao" deveria ser banida, proibida, excomungada, tal como o traficante de droga ou o proxeneta, mas com a diferença de que o cliente / beneficiario dos seus serviços também deve ser criminalizado.

As campanhas eleitorais deveriam ser simplesmente restringidas à divulgaçao dos e só dos programas eleitorais (sem quaisquer folclores), sessoes de esclarecimentos nas respectivas juntas de freguesia e debates entre candidatos.

Mainada !

Paulo Nunes disse...

O que verdadeiramente me deprime é que o casting também se tem revelado fraquíssimo e daí os actores da terceira regional. É por isso mesmo que andamos chateados. E deixemo-nos de merdas: Politica = Representação! Agora convém que sejam profissionais (logo competentes) para nós não darmos o dinheiro como mal empregue. Porque esse sim é que é sempre o problema!